21 de jul. de 2007

Dicas de leitura!


Questões que "cutucam" as crianças, que num primeiro momento parecem simples, mas que na verdade possuem um perfil poético e ao mesmo tempo complexo, aparecem neste livro e encantam até os adultos!
Para onde vai a quinta feira quando a sexta feira chega?
Para onde vai a noite quado chega o dia?
Para onde vai o dia do meu aniversário?

Leia e descubra você mesmo(a)!!!


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"Era uma menina que gostava de inventar uma explicação para cada coisa.

Explicação é uma frase que se acha mais importante do que a palavra

Filósofo é quem, em vez de ver televisão, prefere ficar pensando pensamentos

Solidão é uma ilha com saudade de barco"

Para cada palavra-sentimento essa menina econtrava um meio, um jeito, um conceito

"Sentimento é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado"


As ilustrações de Mariana Massarani são belíssimas e junto com o texto dão vida à menina e suas inquietações!


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Enredo de impressões

Em ''Eu Hei-de Amar uma Pedra'', o português António Lobo Antunes apresenta uma história de amor construída por meio de várias vozes, em tempos que se cruzam

* por José Luís Peixoto

Bravo! Indica

Desde o seu primeiro romance, Memória de Elefante, publicado em 1979, António Lobo Antunes tem erguido uma obra ímpar. A crescente desconstrução narrativa é uma marca evidente desse percurso. No caso de Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura (2000), por exemplo, o autor decidiu mesmo chamar-lhe "poema" e não "romance", como seria de esperar de um volume em prosa com cerca de 550 páginas.

O mesmo poderia ser dito de Eu Hei-de Amar uma Pedra, lançado agora no Brasil. Ambos utilizam uma linguagem torrencial, composta por um expressionismo espesso, feito de imagens sucessivas, tantas vezes brilhantes, característica desta escrita que, no panorama literário português, teve um enorme impacto e encontrou os mais diversos epígonos. Um outro elemento fundamental de Lobo Antunes tem sido Portugal, ou melhor, a idéia de Portugal. Nesse aspecto, a biografi a do escritor se sobrepõe à de alguns
personagens.

EXIGÊNCIA AO LEITOR
Em várias entrevistas, o autor refere-se aos seus livros como algo que, mais do que apenas lido, deve ser experimentado. Eu Hei-de Amar uma Pedra é um bom exemplo dessa exigência perante o leitor. Aquele que se proponha a lê-lo deve estar preparado para entrar num mundo em que vozes de diversos tempos se cruzam, em que as memórias interceptam o presente, em que o discurso direto irrompe intempestivo para lembrar, relembrar ou marcar um ritmo que pode ser mais ou menos obsessivo.

É dessa maneira que se avança por um enredo de impressões. Os espaços em branco na narrativa vão sendo pacientemente preenchidos ao longo das páginas, as personagens vão-se revelando de uma forma indelével e, a pouco e pouco, vamos sendo envolvidos nas relações que compõem este universo. Eu Hei-de Amar uma Pedra é um romance de amor. O amor de que se fala aqui é difícil, muito difícil, a tocar o impossível, porque é humano, feito de pequenas e grandes imperfeições. Às vezes contraditório, sempre verdadeiro.

Talvez "verdadeiro" ou "verdade" sejam palavras pouco aconselháveis para utilizar quando se escreve acerca de um romance. No entanto, são palavras absolutamente necessárias para falar deste romance. Não por causa dos pormenores autobiográficos que se podem intuir, mas porque esse sentimento de verdade é aquele que persiste quando se faz uma pausa nesta leitura ou, de uma forma inequívoca, quando se termina de lê-lo. Uma parte de todos nós, seres humanos, é refletida por este livro.

JOSÉ LUÍS PEIXOTO é poeta, dramaturgo e romancista português, autor de, entre outros, Nenhum Olhar, livro que ganhou o Prêmio José Saramago de 2001.

FONTE: Revista BRAVO - Julho 2007

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