17 de out. de 2008


Para Harold Bloom, "Machado de Assis é um milagre"

O autor de "Memórias Póstumas de BRás Cubas" é das paixões mais recentes do professor de Yale. "Só a pouco consegui ler "Brás" no original e fiquei absolutamente em choque".

"Ele é o maior literato negro, creio, da história da literatura universal", diz Harold Bloom. "Ele" é o "afro-brasileiro" Machado de Assis, um "gênio da ironia", nas palavras do crítico.

A "
ênfase" na cor da pele do escritor, pouco comum mesmo nos EUA do politicamente correto, é relacionada com um aspecto curioso desse "choque". Na mesma época em que devorou Machado, Bloom leu com fervor um romance do cubano contemporâneo Alejo Carpentier. "Achei que Carpentier tinha uma literatura negra. Machado, por outro lado, escrevia como um Laurence Sterne no Novo Mundo", conta, em referência ao inglês do século 18 autor de "Tristan Shandy".

Quando descobriu que trocara as bolas, que Machado tinha antepassados escravos e que Carpentier era branco, achou que isso precisaria ser registrado.

A
pele mulata do "Bruxo do Cosme Velho" elevou o admirado escritor fluminense à condição de "milagre". "Ironias. Ele, assim como eu, adora as ironias."

Em seu ensaio machadiano, quase todo voltado a "Brás Cubas" -modelo que segue na maior parte do livro, o da escolha de um romance ou até um personagem de cada "gênio" analisado-, ele reforça outra das "maestrias" do escritor.

"Divirto-me, e
não me entedio, diante da constatação de que, muito em breve, hei de vivenciar o meu próprio esquecimento (...). 'Memórias Póstumas', escritas do túmulo, tornam o esquecimento singularmente divertido", crava.

O
autor de "Angústia da Influência" (1973), talvez seu estudo mais importante, não acha, porém, que Machado seja dos mais influentes da língua portuguesa.

Para ele, é "o trio de grandes poetas" chamado Pessoa, presente em "Cânone Ocidental", "o gênio da língua".




GÊNIO - OS CEM AUTORES MAIS CRIATIVOS DA HISTÓRIA DA LITERATURA
Autor: Har
old Bloom
Tradução: Jo
sé Roberto O'Shea
Editora: Objetiva (832 págs.)


Fonte: Folha de São Paulo - 05/2003

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